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sexta-feira, 25 de abril de 2014

A GÊNESE DE UM ARTISTA


Mineiro de Aimorés, nascido em 8 de fevereiro de 1944, antes de aventurar-se pelo mundo da fotografia, Sebastião Salgado formou-se em economia (tendo inclusive o título de doutor na área, conquistado em Paris). Ainda na Europa, Salgado trabalhou na Organização Internacional do Café, em Londres. Em uma de suas viagens a trabalho, resolveu experimentar e criar seu primeiro ensaio fotográfico, clicando os cafezais africanos, utilizando um equipamento de sua esposa. Na ocasião, ele percebeu que essa seria a melhor maneira de apresentar a situação econômica de diversos lugares e trocou, então, os relatórios e estudos estatísticos pela fotografia.




Foi então que em 1973, com 29 anos, ele iniciou sua carreira como fotojornalista. Sua primeira foto estampada em jornais do mundo todo foi o registro do atentado a tiros que Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, sofreu em Washington, em 1981.


Já em 1986, ele lança seu primeiro livro, Autres Ameriques (que chegou ao Brasil em 1999, com o título Outras Américas), com o material que colheu de 1977 a 1984, documentando as condições de vida dos camponeses e dos índios da América Latina. Neste trabalho, que exigiu sete anos de dedicação, o fotógrafo percorreu Chile, Bolívia, Peru, Equador, Guatemala, México e o nordeste brasileiro.


Ainda na década de 80, Salgado acompanhou a ONG Médicos Sem Fronteiras numa expedição à África, retratando a brava seca da região, que resultou em Sahel El Fin del Camino, publicado em 1988.


Entre 1986 e 1992, também em passagem por vários lugares, Sebastião produziu Trabalhadores, onde as duras condições de homens e mulheres que desenvolvem afazeres manuais, utilizando-se apenas da força do corpo, foram registrados.




Em 1994, com sua esposa, fundou a Amazonas Imagens, uma agência de imprensa fotográfica que trabalha exclusivamente sua produção e obra. Em 1997, quatro anos após a publicação de Trabalhadores no exterior, o livro começa a ser vendido no Brasil. No mesmo ano, chega ao país Terra, com imagens feitas em terras tupiniquins entre 1980 e 1996 e com prefácio do escritor português José Saramago. O projeto, que conta ainda com um CD com quatro canções de Chico Buarque, mostra diversos personagens que vivem excluídos socialmente: mendigos, crianças de rua, presidiários, garimpeiros e trabalhadores rurais. A capa, com a imagem de uma garotinha de 5 anos de profundo olhar, é parte da grande captação de material fotográfico feita dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, que receberam os direitos autorais da edição brasileira do projeto.




Do maior garimpo a céu aberto do mundo, no Pará, Sebastião produziu Serra Pelada, lançado no Brasil em 1999. A mina, de mesmo nome do livro, foi a grande fonte da movimentação da economia brasileira dos anos 80. As imagens, feitas no auge da exploração daquela terra onde milhares de trabalhadores garimpavam sem máquinas, tiveram grande repercussão mundial e serviram de inspiração para produções cinematográficas e televisivas nacionais.




O trabalho seguinte, Exôdos, segundo o próprio autor, consiste na história da humanidade em trânsito, de personagens que migraram de suas terras natais, refugiaram-se ou exilaram-se por conta da guerra, da pobreza, das situações de risco e de outras inúmeras mazelas. De 1994 a 1999, ele percorreu 45 países e registrou os conflitos e dilemas dessas populações. Nessas viagens, o fotógrafo se deparou com uma infinidade de crianças, que sempre solicitavam seus registros fotográficos. Baseado na pergunta “Como é possível uma criança sorridente representar o infortúnio mais profundo?”, ele concebeu Retratos de crianças do êxodo. Ambas as publicações, lançadas em 2000, mais uma vez alcançaram o mundo, inclusive por meio de uma exposição, que também passou pelo Sesc Pompeia, no mesmo ano.


Porém, enquanto realizava este trabalho, o fotógrafo viveu um de seus piores momentos; diante de tanta brutalidade, tanta morte e miséria, Sebastião Salgado adoeceu. Infecções por todo corpo, oriundas de um estado depressivo, fizeram-no desistir de fotografar. Neste hiato, ele resolveu voltar ao local onde nasceu. A propriedade que era de seus pais, o paraíso do fotógrafo quando criança, estava tão doente quanto ele próprio. Decidiu, portanto, adquirir a fazenda e começou um novo projeto: reconstruir aquele espaço. A ideia deu tão certo que a fazenda foi transformada em parque nacional e Salgado e sua esposa fundaram o Instituto Terra, organização sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento sustentável da região do Vale do Rio Doce.


Em 2001, ao retomar suas atividades, o fotógrafo iniciou O Fim da Pólio, série de fotos feitas em campanhas de vacinação na Somália, Sudão, Índia, República Democrática do Congo e Paquistão, documentando os esforços da Organização Mundial da Saúde e da UNICEF, trazendo sua arte para a Campanha Mundial de Erradicação da Pólio. Além das imagens, o livro, publicado em 2003, traz uma cronologia do combate à doença e depoimentos de médicos e colaboradores das campanhas.




Lançado no Brasil em 2004, Um Incerto Estado de Graça, reproduz várias imagens feitas pelo fotógrafo entre 1974 a 1987, divididas em quatro seções: o fim do trabalho manual; imagens diversas; fome no Sahel; e América Latina. As fotografias têm as legendas escritas pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano e o ensaio final por Fred Ritchin (ex-editor de imagem do The New York Times).


No ano seguinte, 2005, O Berço da Desigualdade denuncia a crise do sistema educacional brasileiro e de países como o Quênia, Afeganistão e Peru. As fotos, registradas durante três décadas pelo fotógrafo, foram legendadas por Cristovam Buarque, atual senador e ex-ministro da educação.




O continente africano, sempre presente na rota do fotógrafo, ganhou uma publicação exclusiva em 2007, intitulada África. Dividida em três partes, por regiões, foi onde, pela primeira vez, Sebastião expôs imagens de paisagens – já dando início ao seu próximo projeto, o grandioso Gênesis.


Neste último projeto, segundo o próprio fotógrafo, “nossa missão consistia em encontrar paisagens terrestres e marinhas, animais e comunidades antigas que tinham escapado ao braço comprido – e frequentemente destrutivo – do homem moderno”.


Em oito anos (2004-2012), o fotógrafo (junto de sua equipe, composta por oito pessoas) visitou mais de 30 lugares diferentes – basicamente as regiões mais remotas do planeta, de difícil acesso. As viagens, feitas em pequenos aviões, helicópteros, mulas, balões, barcos, canoas e longas caminhadas (a mais longa, de 850km, durou 55 dias), resultaram em mais de 240 imagens, que foram divididas em cinco seções, de forma a facilitar o entendimento do modo que a natureza funciona.




Planeta Sul: as paisagens congeladas e os animais da Antártica , do Sul da Geórgia, as Falklands/Malvinas, o arquipélago Diego Ramirez e as Ilhas Sandwich.

Santuários: as paisagens vulcânicas, a fauna , as populações, a vida selvagem e a vegetação dos diferentes ecossistemas das Ilhas Galápagos, Nova Guiné, Irian Jaya, os Mentawai da Ilha Siberut e Madagascar.

África: a vida selvagem, os animais, a população tribal, os desertos e as antigas comunidades do Delta de Okavango, na Botswana, da Ruanda, do Congo e Uganda, da Namibia, Sudan, Líbia, Argélia e Etiópia.

Terras do Norte: as paisagens naturais, a vida animal e indígena do Alasca e do Colorado, nos Estados Unidos, do Canadá, da Rússia e da Sibéria.

Amazônia e Pantanal: a enorme floresta tropical, o Rio Amazonas e a vida de tribos indígenas brasileiras.


A seguir você pode ver a natureza através dos olhos azuis de Sebastião Salgado:



A ideia de Salgado e sua esposa Léia é a de que Genesis desperte e estimule nas pessoas a consciência para a conservação do meio ambiente que, segundo eles, está implorando por nosso cuidado e atenção.


Do livro, veio a ideia da exposição Genesis | Fotografias de Sebastião Salgado, em cartaz no Sesc Santo André até março. A montagem, inaugurada em abril do ano passado em Londres, já passou pelo Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e pelo Sesc Belenzinho, antes de chegar ao ABC paulista; e no roteiro ainda estão diversas outras cidades, de vários países.


O fotógrafo acredita que Genesis é seu último grande trabalho, pois a demanda física que seus projetos exigem é muito grande para alguém de 69 anos de idade. Ele afirma que não parará de produzir – mas sempre em preto e branco, característica presente em todos os seus trabalhos. O fotógrafo conta que todas as imagens são produzidas em cores e apenas no processo de revelação é que elas ganham a tonalidade que se tornou sua marca.




Adepto da fotografia digital há pouco tempo (durante quase 40 anos ele apenas trabalhou com película), o brasileiro já conquistou os mais importantes prêmios da área, como o de Melhor Repórter Fotográfico do Ano, oferecido pelo International Center of Photography de Nova York, e o Grand Prix da Cidade de Paris.


Todos os livros, segundo seu site:
Sahel: L'Homme en Détresse , Centre National de la Photographie. Para «Médecins Sans Frontières». França,1986.
Other Americas, Pantheon Books, EUA, 1986.
Autres Amériques, Editions Contrejour, França, 1986.
Otras Americas, Ediciones ELR, Espanha, 1986.
Outras Américas, Companhia das Letras, Brasil, 1999.
Sahel, El Fin del Camino, Comunidad de Madrid, para Medicos Sin Fronteras, Espanha, 1988.
Sahel, The End of the Road, University of California Press, EUA, 2004.
Les Cheminots, Comité Central d'Entreprise de la SNCF, França, 1989.
An Uncertain Grace, Aperture, EUA, 1990.
An Uncertain Grace,Thames and Hudson, Inglaterra, 1990.
An Uncertain Grace, SGM, Sygma Union, Japão, 1990.
Une Certaine Grace, Nathan, França, 1990.
Um Incerto Estado de Graça, Editorial Caminho, Portugal, 1995.
Un incerto stato di grazia, Contrasto, Itália, 2002.
The Best Photos/As Melhores Fotos, Sebastião Salgado, Boccato Editores, São Paulo, Brasil, 1992.
Photopoche, Centre National de la Photographie, Paris, França, 1993.
FotoNote Sebastião Salgado, Contrasto, Itália, 2004.
Photofile Sebastião Salgado, Thames & Hudson, Inglaterra & EUA, 2006.
Photo Pocket Sebastião Salgado, Edition Braus, Alemanha, 2006.
Photopoche Sebastião Salgado, Lunwerg Editores, Espanha, 2006.
Workers, Aperture, EUA, 1993.
Workers, Phaidon, Inglaterra, 1993.
La Main de l'Homme, Editions de la Martinière, França, 1993.
Trabalho, Editorial Caminho, Portugal, 1993.
Trabajadores, Lunwerg Editores, Espanha,1993.
Arbeiter, Zweitausendeins, Frankfurt, Alemanha, 1993.
Workers, Iwanami Shoten, Japão, 1993.
La Mano dell’Uomo, Contrasto, Itália, 1994.
Trabalhadores, Companhia das Letras, Brasil, 1996.
Terra, Editions de La Martinière, França, 1997.
Terra, Ed. Caminho, Portugal, 1997.
Terra, Zweitausendeins, Alemanha, 1997.
Terra, Contrasto, Italia, 1997.
Terra, Phaidon, Inglaterra, 1997.
Terra, Companhia das Letras, Brasil, 1997.
Terra, Alfaguara, Espanha, 1997.
Um Fotógrafo em Abril, Ed. Caminho, Portugal, 1999.
Serra Pelada, Photo Poche Societé, Editions Nathan, França, 1999.
Exodes, Editions de La Martinière, França, 2000.
Exodos, Ed. Caminho, Portugal, 2000.
Migranten, Zweitausendeins, Alemanha, 2000.
In Cammino, Contrasto / Leonardo Arte, Itália, 2000.
Migrations, Aperture, EUA, 2000.
Exodos, Companhia das Letras, Brasil, 2000.
Exodos, Fundacion Retevision, Espanha, 2000.
Les Enfants de l’Exode, Editions de La Martinière, França, 2000.
Retratos de Crianças do Exodo, Ed. Caminho, Portugal, 2000.
Kinder, Zweitausendeins, Alemanha, 2000.
Ritratti, Contrasto/Leonardo Arte, Itália, 2000.
The Children, Aperture, EUA, 2000.
Retratos de Crianças do Exodo, Companhia das Letras, Brasil, 2000.
Retratos<u>, Fundación Retevision, Espanha, 2000.
Malpensa, La città del volo, SEA Aeroporti di Milano, Itália, 2000.
Salgado, Parma. Contrasto, Itália, 2002.
The End of Polio, Bulfinch, EUA, 2003.
La Fine Della Polio, Contrasto, Italia, 2003.
O Fim Da Pólio, Companhia das Letras, Brasil, 2003.
O Fim Da Pólio, Caminho, Portugal, 2003.
L'Eradication de la Polio, Le Seuil/ Turner&Turner, França, 2003.
L’homme et l’eau. Editions Terre Bleue, França, 2005.
O Berço da Desigualdade, UNESCO, Brasil, 2005.
Africa, Taschen,(internacional) 2007.
Africa, Taschen, (internacional) 2010. 2ª edição
Les Voies du bonheur, Editions de La Martinière, França, 2010.



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