PINTURA HELENÍSTICA (323-31 a.C)
Um novo mundo criara Alexandre Magno, da Macedônia, em apenas 13 anos de reinado (336-323 a.C.). Conquistando o vasto Império Persa que se estendia do Egito às fronteiras da Índia, e um mundo helênico, além de dar à própria Grécia nova modalidade de vida.Como se sabe, os persas, duzentos anos antes, haviam conquista Babilônia e o Egito, bem como uma parte do mundo grego, correspondente à Jônia. Este fato houvera dado já então oportunidade que os gregos facilmente visitassem toda esta parte do mundo antigo e se iniciasse um geral interpenetração das culturas. Tenha-se em conta que os persas eram indo-europeus, cujo domínio fez passar a liderança; do mundo das mãos dos semitas a um novo grupo étnico.
A cultura helenística penetrou também o Ocidente, alcançando os etruscos e, através destas, aos romanos, os herdeiros finais das grandes mudanças da época antiga. Quando em 31 a.C. os romanos completavam na batalha de Ázio a anexação do mundo helênico, não faziam senão deslocar mais para o Ocidento o polo das decisões políticas. Continua o espírito ecumênico (de oikumene = mundo civilizado) com uma civilização e cultura de tendência a se tornar comum, ao mesmo tempo que mantinha a noção de uma certa individualização e liberdade do cidadão.
As artes se desenvolveram; todavia a pintura quase toda se perdeu. Nada restou de Apeles. Nem sequer os vasos contribuíram para sua conservação, porque os helênicos haviam passados para outras espécies de ornamentação e de relevo. Em compensação todavia os afrescos de Pompéia, Herculanum e Stábia, soterrados pelo Vesúvio no I século d.C., contêm cópias aproximadas de criações helênicas. Sobram ainda originais preciosos de mosaicos. E ainda estelas funerárias de Pagase (Tessália), das quais duzentas conservam traços de pintura, estando cerca de vinte bem conservadas.
Começa no período helênico a técnica do encaustico sobre gesso e mármore pela aplicação de cera derretida. Apresenta a vantagem de melhores nuances e mais brilho. Atribui-se a Aristides, da escola tebana do 4-o século a invenção do mencionado encaustico, graças ao qual se conservam ainda hoje cenas como a das graciosas Jogadoras de Astrágalo.
O mosaico adquire técnicas mais refinadas, como o do vermiculatum, capaz de ar a impressão de verdadeira pintura, tal a pequenez das partículas, como se observa na Batalha de Alexandre e Dario em Isso (cf. n.130).
Desenvolveu-se a técnica dos efeitos em claro-escuro, que já vinham do período clássico.A arte helênica conserva ainda algumas direções clássicas puras idealizadoras do objeto. A tendência todavia é para o aumento de imaginação e liberdade.
A nova arte dos helenos, superando o equilíbrio clássico, com a dinamicidade – típica de um novo tempo - é um classicismo barroco de espontaneidades entumescentes, sob inspirações do Oriente semítico, ao mesmo tempo que algumas direções realistas latentes da Grécia anterior.
Na escultura estão os exemplos claros em Vênus de Milo, Lacoonte, Vitória de Samotrácia, ligeiramente liberados do equilíbrio estático e da idealização figurativa. O mesmo acontece na pintura, mais realista, enérgica, quando senão também cômica e popular (cf.n.131==).Quanto ao uso da imaginação, que se deve à influencia oriental, é preciso notar que os gregos, notadamente lógicos, nunca foram altamente imaginosos, ficando nisto também abaixo dos demais ocidentais.
O Renascimento Clássico do século 16 será também notoriamente mais imaginoso que o clássico antigo por ele restaurado.
Do ponto de vista temático, ou seja dos gêneros artísticos, ocorre no período helênico a grande pintura comemorativa. Nela se teria destacado Apeles, pintor de Alexandre. Eco remoto desta temática é também o mosaico Batalha de Alexandre e Dario em Isso, encontrado em Pompéia, onde felizmente se conservou
Desenvolveu-se a pintura de gênero, como de animais, flores e frutas, coisas insignificantes pelo conteúdo, personagens cotidianas. É notável o mosaico dosMúsicos Ambulantes, Pompéia, da autoria de Dioscúrides de Samos.Em Alexandria se tratou inclusive o humano burlesco, com cabeças de animais sob influencia mitológica egípcia, como na Taça Farnese. Este rumo nitidamente anticlássico é, em parte, retido pelo retorno à pintura clássica no I século a.C.
Passemos a apreciar com detalhe algumas obras helenísticas.
Jogadoras de Astrágalo, de Herculanum, monocromia sobre mármore (42 cm), em técnica helenística, parece retomar antigo baixo relevo, pois sua índole é do clássico neo-ático, de cenas de gênero, com assinatura de Alexandre Ateniense.O desenho monocromo, com o uso do esfumado discretamente aplicado nas formas, é de um efeito gracioso notável, obtido em uma composição simples.A representação obedece a dois planos. Em pé estão Niobé e Latone, no episódio da discussão antes de serem mães. Em perfil menor, vem à esquerda Foibe, para induzir à reconciliação. Aglaé e Eleaira continuam, reclinadas, seu jogo. Há, pois, uma perfeita lógica interna, além do tratamento rítmico da composição. Animado e gracioso educadamente feminino, como era próprio das deusas.A Taça Farnese, de ônix, diâmetro 20 cm (Museu Nacional de Nápoles) é uma peça rara da arte helenística alexandrina. Na representação, as divindades monstruosas da velha tradição egípcia foram substituídas por seres humanos, ao modo grego, expressando admiravelmente o sincretismo helênico.Um ancião é o Deus Nilo. A seus pés Eutêmia Iside. No centro Horus Tritolemo. À direita as duas filhas de Nilo simbolizando as estações da inundação fertilizadora e a colheita. Em torno os ventos Etésios.
A Batalha de Alexandre e Dario em Isso é o triunfo do mosaico na técnica do vermiculatum. Trata-se de um milhão e meio de pequenos cubos de mármore, distribuídos no espaço de 5,12 x 2,71 m. Do 2-o século d. Cr., da casa de Fauno, em Pompéia, hoje no Museu de Nápoles.A temática helênica e o aspecto barroco da violência das linhas e cores se revelam como um eco dos antigos afrescos egípcios. Conforme várias conjeturas, talvez reproduzisse a composição de Filosseno de Eretria.
O episódio apresenta em destaque o rei Dario, sobre grande carro de guerra. O movimento unidirecional das lanças expressam um poder extraordinário de força, revigorado pelo fundo mais claro e irradiante deste centro.
Alexandre com aspecto mais escuro e tremendo, irrompe do lado esquerdo. Sua lança comprida atravessa um cavaleiro persa, que ainda se interpõe e protege Dario.O cromatismo de fortes claros-escuros, em sucessão aumentam a tragicidade das fisionomias e do aspecto geral da composição. A nitidez dos perfis reforça a dramaticidade e põe uma significação certa em cada rosto.
O auriga do carro de Dario está na fustigação furiosa dos cavalos, com um tremenda empatia.À frente de Dario apeia um cavalariano persa para atender a um ferido. O cavalariano tem na fisionomia a resolução, o cuidado, o terror da sensação de um inimigo irreversível.O artista emprestou às fisionomias de Dario e de Alexandre a graciosidade dos reis em batalha.Rito ou Mistérios Dionisíacos, de Pompéia, reproduz criações helenísticas. Observa-se a dança ritual, que reproduz uma fase da iniciação.
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