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terça-feira, 15 de abril de 2014

ESTILO ROCOCÓ, EM ESPECIAL NA FRANÇA (1720 - 1780)


 

No curso do século 18 o barroco, ainda que não o de todos os artistas, derivou para criações fantasiosamente galantes e decorativas, explorando a beleza graciosa, frequente até nas coisas fúteis, delicadas curvilíneas. Esta beleza, ou graça, ou esteticidade pode encontrar-se nas festas galantes, idílios campestres, episódios da velha mitologia, mesmo na religião dos crentes atuais, e nas coisas sérias.
Não está correto definir o rococó como o estilo do fútil em si mesmo. Mas poderá ser um estilo da beleza leve e graciosa, que eventualmente pode estar tanto no fútil como no sério. Assim concebido, o rococó é um estilo autêntico de objeto perfeitamente formalizado.
 
Há espíritos que são dominantemente rococó, e assim também poderá haver épocas mais rococós. Mas normalmente também o espirito profundo aprecia na totalidade dos seus interesses a graciosidade da beleza, encontradiça na galanteria, no idílio, na coqueteria, na ingenuidade, inclusive religiosa.
O dia a dia está cheio destas coisas vazias. Elas podem ser vazias, mas são suficientemente cheias para as um grande número das pessoas elegantes, que transitam ostentando o fino do bem vestir e a expressividade corporal estudada, até mesmo na maneira afetada de falar.
O belo é o preferido, já dizia Aristóteles. Esta frase antiga é a filosofia do rococó, com a diferença que este estilo busca o belo gracioso, mesmo nas sem importâncias da vida, nas coisa leves e fáceis, numa aparente super valorização do fútil; mas não é o fútil, que é valorizado, e sim o belo nele contido, ainda que por vezes só na graciosidade de suas linhas, formas e cores.
O virtuosismo do rococó não pode ser julgado, em função da coisa que é graciosa, mas do gracioso em si mesmo. É neste plano, que o artista se propõe destacar, que se julga a sua arte. Este tratamento, poderá ser profundo, apesar de a coisa por baixo seja fútil. Esta profundidade é o que fez serem grandes alguns dos artistas do rococó.

O estilo rococó tem dois planos de manifestação, o pré-artístico (ou do portador da arte) e o propriamente artístico (a expressão mesma da arte).
No instante pré-artística o estilo rococó simplesmente explora a esteticidade da graciosidade. Neste momento não atinge a arte em sentido estrito, pois ainda não contém um conteúdo de significação temática.
Nesta condição pré-artística o rococó nasceu na arquitetura e sobretudo nela se desenvolveu. O pré-artístico também ocorre em todas as artes, que podem explorar a esteticidade pura e simples das cores, formas plásticas, sons musicais, as palavras.
A música foi sempre antes de tudo apreciada pela esteticidade pura e simples dos sons. Não acontece o mesmo com a pintura e a escultura, formas artísticas que, além do significante material, tratam também da significação, expressando conteudisticamente algo. Expressar graciosamente aos objetos, eis onde está o estilo artístico rococó propriamente dito.
 
O rococó foi sobretudo o estilo da França do século 18, onde recebeu o nome: estilo rocaille. Este nome lembra rocha (= roc) e incrustações de conchas (= rocaille), o que sugere a origem do mesmo na arquitetura, dali passando ao uso da escultura e pintura.
Também foi chamado estilo Luís XV, rei da França de 1715 a 1774. Ainda se fez conhecer como estilo de regência, pois tendo Luís XV sido declarado rei aos 5 anos, aconteceu uma regência, que durou de 1715 a 1723. Mas os primeiros sinais do rococó já se manifestam na construção do palácio de Versalhes pelo anterior rei Luís XIV, quer na arquitetura, quer na pintura.
Sucederam-se quase pelo espaço de uma geração os três grandes pintores do rococó francês: Watteau, Boucher, Fragonard. Estão sob a influência anterior do barroco flamengo de Rubens e dos coloristas venezianos, criando todavia em estilo próprio.




 
 
Jean-Antoine Watteau (1684-1721), pintor de espírito poético na linha do fantástico e onírico, foi aproveitado pelos decoradores das festas nos palácios de Paris. Estudou os colorismos de Rubens e dos italianos Ticiano e Veronese.
Realizou seus melhores trabalhos na ultima década de sua vida, que foi curta, e com estilo próprio. Pintou com linhas delicadas, ainda que vibrantes e nervosas, ao estilo gracioso do rococó.
A tela contém uma atmosfera envolvente, integrando os personagens na composição do todo. Neste sentido é apreciável Reunião no Parque (Louvre).
Nas telas deu vida ao vestuário suntuoso da época. Neste particular sabia como imprimir aquela ligeira desordem pela qual o corpo consegue deixar que adivinhem sua graça.
Não obstante criou dois nus: Julgamento de Páris (Louvre), Júpiter e Antíope (Louvre).
Das festas galantes retratadas são: Parque de St.Cloud (Prado), Casamento Campestre (Prado), Festa Veneziana (Edimburgo), O embarque para Citera (Louvre).
Watteau, que era um introspectivo, retratava como espectador inteligente e que goza esteticamente com profundidade a graciosidade fluente do que tem diante dos olhos.







 
François Boucher (Paris 1703-1770), depois de aprender de Watteau, ainda visitou a Itália, onde conheceu as obras de Tiepolo, o herdeiro dos coloristas venezianos e criador do decorativismo rococó da península.
Pintor do rei da França e de Madame Pompadour, o estilo de Boucher, além de decorativo, sensível e erótico, se tornou monumental nos palácios de Versailles, Louvre, Fontainebleau.
Fez o retrato de Madame Pompadour (coleção Rothschild, Paris).
São representativos da fase galante da pintura francesa, do espírito grácil do rococó e da fineza pessoal de Boucher, os quadros: Nu sobre o sofá (Munich),Encanto da vida campestre (Louvre), Diana após o banho (Louvre).




 


Jean’-Honoré Fragonard (1732-1806) estudou com Chardin e Boucher em Paris, com estadia em Roma de 1756 a 1761, praticando a pintura com perfeito conhecimento dos grandes coloristas.
Com um erotismo suave e delicioso pintou para a clientela da burguesia e nobreza da capital francesa.
São apreciáveis: Beijo furtivo (Leningrado), Mulher retirando a camisa (Louvre), As banhistas (Louvre) Rinaldo nos jardins de Armida (Col. Particular, Paris). Pintou também quadros para a sala de jantar de Luís XV em Versailles e para o palácio de Madame Pompadour. O virtuosismo com que Fragonard maneja os tons da cor e as sombras coloridas, as silhuetas e os fundos, prenuncia os modernistas.



Fora da França houve sinais de rococó na pintura de vários países.
Na Itália destacou-se como pintor de estilo rococó o veneziano Giambattista Tiepolo (1696-1770), com encomendas nas mais diversas cidades da península, e fora dela na Alemanha e Espanha.
Na Espanha Goya principiou pintando no estilo rococó, fazendo-se depois um realista.

  

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