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domingo, 13 de abril de 2014

O ESTILO DE PINTURA DO ANTIGO EGITO

O estilo de pintura do antigo Egíto.





Introdução. O estilo de pintura do antigo Egito esteve condicionado, mais do que qualquer outro estilo histórico, ao tipo de civilização do seu país.
Foi o antigo Egito eminentemente conservador por todo o tempo que subsistiu como país independente.



No curso do terceiro milênio a.C. inventou a escrita. Este fato certamente ainda agravou o conservadorismo, porque permitiu transmitir intacta a ideologia do passado. Por melhores que sejam os efeitos do conhecimento da escrita, ela pode produzir um efeito inverso, - o de provocar a paralisia mental, sobretudo a religiosa e a dos costumes.
Também nas outras partes do mundo o efeito conservador da escrita se manifestou a partir de quando foi inventada, ou de quando datam os primeiros escritos de fundo religioso e moral.
Graças a alguns textos fundamentais também outros povos semitas conservaram uma linha de continuidade através do tempo.
Outrossim é ainda comparável ao exemplo do Egito conservador, por efeito de escritos antigos, a civilização da China, mais ou menos paralisada até aos tempos modernos no tradicionalismo consolidado pelos textos de Confúcio.
Semelhante fenômeno ocorreu na Índia, cujo conservadorismo foi gerado pelo livros brâmanes.
Ainda que mentalmente mais dinâmicos, os povos do Ocidente e de parte do Médio Oriente também sofreram considerável retenção ideológica, em consequência do proselitismo dos pregadores à base de textos antigos por estes considerados intocáveis.
Entretanto, já cedo, vigorou na Grécia o espírito crítico, que gerou a filosofia.



Não obstante ao conservadorismo trimilenar do Egito e, apesar de haver sido por causa disto relegado ao esquecimento ao ponto de haver sido perdido o código de sua escrita, fizeram as circunstâncias que sua civilização exercesse contudo mais influência sobre o Ocidente grego, que a da antiga Mesopotâmia.
E fez também que o povo judeu, apesar de originário da Mesopotâmia e ter trazido dali as mais antigas versões sobre a criação do mundo e sobre o dilúvio, formulasse o texto definitivo de sua ideologia religiosa no Egito.
Até o neolítico, quando se adotou a agricultura no 5-o milênio a.C. a agricultura, a civilização e a cultura na Europa e no norte da África, onde se situa o Egito, haviam sido mais ou menos iguais, pelo decurso de dezenas de milhares de anos.
Por causa de sua adequação à agricultura, as terras às margens do rio Nilo facultaram uma progressão às populações ali estabelecidas, que foi ganhando frente já considerável no curso no 4-o milênio.
Politicamente organizadas em cidades autônomas, estas se foram unindo pelo poder dos mais fortes até que por volta de 3300 eram dois reinos, Sul (Alto Egito, capital Menfis) e Norte (Baixo Egito, ou Delta, capital Sais).
A primeira capital faraônica foi Menfis, até o fim do Império Antigo (c. 2000 a.C.). Depois, sucessivamente, serão Tebas e Sais.
Principiou a época faraônica, ao se estabelecer pela volta de 3200 a união dos dois reinos, tendo como primeiro rei da dinastia o Faraó Menes. Nasceu então também a escrita que se tornou uma necessidade administrativa.
O símbolo do Império do Norte do Egito antigo foi o abutre. O do Império do Sul do Egito, a cobra. Em consequência da união, ambos os símbolos se aplicam na fronte do mesmo faraó.
Acontecerá a conquista persa em 525 a.C., a de Alexandre Magno em 333 a.C., a Romana 30 a.C., quando se considera encerrada a civilização egípcia.
Ficou como fonte fundamental dos conhecimentos sobre o Egito o livro Egípcias (Aigyptiaka), escrito em grego c. do ano 240 a.C. pelo sacerdote Maneto, que, por saber ainda ler documentos originais, transferiu importantes informações, inclusive da sequência dinásticas.
A arqueologia completou admiravelmente estes conhecimentos a partir da expedição de Napoleão em 1789.
As descobertas arqueológicas se converteram também em objeto de pilhagem, que enriqueceram praças e museus da Europa e muitos outros países do mundo. Inclusive no Brasil, o Museu Nacional do Rio de Janeiro conseguiu, por compra aos pilhadores, numerosas múmias, que se destinavam ao mercado de Buenos Aires (Argentina).
A pilhagem no Oriente Médio teve desenvolvimento com as Santas Cruzadas da Idade Média, quando se dera início ao longo colonialismo que massacrou, a diferentes pretextos, as nações do Oriente Médio e Norte da África.
Somente a partir de 1902 passou a diminuir uma pilhagem generalizada.
Dependendo a arte muito dos objetos aos quais expressa, dali aliás surgindo os gêneros, esta dependência foi marcadamente uma característica da arte egípcia. Trata-se, portanto, de uma dependência cuja forma eventual assumiu, portanto, a qualificação de ser um estilo, o egípcio.
Não se consegue uma clara noção do estilo egípcio sem atenção à mentalidade com que eram vistos os objetos que representavam. Não representava a arte egípcia aos objetos dentro de todas as suas perspectivas, e sim apenas das perspectivas consagradas pelo uso que então se fazia da arte. Neste sentido se assevera que a arte egípcia foi utilitária (geralmente materialista), hierática (sagrada, sobretudo funerária e a serviço dos mortos), áulica (da corte e da elite).
Como arte utilitária, a arte egípcia serviu a objetivos essenciais e não meramente estéticos, como o da decoração. Não é uma arte pela arte. É uma arte que serviu a um homem surgido de uma situação econômica gerada pelo progresso da agricultura ao longo do grande oásis formado pelo Rio Nilo.
Mas os objetivos utilitários deste homem do tio Nilo foram profundamente marcados pela interpretação animista da natureza e em que ele continuava participando como um espírito sobrevivente post-mortem. A este serviço continua o objetivo utilitário da arte. Não se compreende, portanto, a temática da pintura encontrada nos sarcófagos e recintos mortuários sem uma tomada de conhecimento de como os egípcios conceituavam o ser humano.
A crença numa vida futura da alma, a qual requeria um corpo, por lhe ser considerado natural, sugeriu e desenvolveu a mumificação, como ainda a construção de pirâmides mortuárias, depois sepulturas no fundo da terra. As múmias e estátuas dos mortos serviam de apoio físico das almas dos mortos.
Mais do que nos templos e palácios, conservou-se a arte egípcia da pintura nas câmaras mortuárias e nos sarcófagos.
Pelo seu destino, a arte egípcia foi, sobretudo no começo, a arte para os áulicos, para os alto funcionários, para os ricos proprietários das terras, para os sacerdotes que compartilhavam com o poder.
Do ponto de vista sócio-econômico o Egito antigo viveu um feudalismo similar ao europeu da Idade Média. As grandes propriedades eram dos nomos(nobres) e se perpetuavam na respectiva casta, enquanto o povo era servo. O poder pertencia à casta sacerdotal hereditária.
O mesmo continuará a acontecer com os judeus, que levaram consigo esta maneira de pensar, a saber, a da hereditariedade do sacerdócio pela tribo de Levi. Em função desta concepção ainda hoje persiste na Igreja Católica o princípio do sacerdócio eterno daqueles que o exercem.
O Faraó não é senão o sumo sacerdote da casta sacerdotal. Em consequência, a arte egípcia assumiu a expressão dos interesses teocráticos e nobiliárquicos das elites dominantes. No Médio e Novo Impérios se estenderam as vantagens sociais, ampliando-se os indivíduos alcançados pelas vantagens funerárias.
Do ponto de vista da história da cultura, quer no plano das idéias, quer no das artes, foram transmitidas aos povos mais recentes através dos gregos, iniciando por Creta, e dos judeus, que reemigrando do Egito, trouxeram dali costumes moralistas e conceitos religiosos, que, por sua vez retransmitiram aos cristãos.
Vem, efetivamente, do Egito o moralismo, que contrasta com a abertura moral dos babilônios. Ainda é do Egito a idéia da recompensa após a morte, quando a alma do morto é sujeitada a um tribunal.
Livro dos mortos dos egípcios é um predecessor da Bíblia judaica.
Importa considerar o importante conceito egípcio sobre a unidade da natureza humana, em vista da qual corpo e alma são considerados componentes naturais do todo do homem. É também a doutrina homérica, e portanto dos gregos. Na extrema oposição está o dualismo oriental, vindo para o Ocidente através de denominações várias: orfismo (do sacerdote Orfeu, 6-o século a.C.), pitagorismo (de Pitágoras, 5-o século a.C.), gnosticismo (1-o século a.C.), maniqueísmo (3-o século d.C.).
O cristianismo, que se mantém no primeiro conceito, é contudo afetado pelo dualismo, no que se refere às idéias de pecado original e salvação como o batismo, além de assimilação de noções típicas persas referentes à doutrina dos anjos e a de reino dos céus (vitória sobre o mal).
A partir dessas considerações se pode avaliar o que a pintura poderá ter como objeto quando praticada dentro de tal ou tal visão do homem.
Hoje em virtude das escavações e redescoberta (no século 19) da escrita e das artes egípcias, passamos a um contexto ainda maior com o Egito antigo. Definitivamente ficamos sabendo que lá se encontram remotas raízes de várias crenças e maneiras de pensar, que interpretações posteriores a uma revelação divina.

     Estilização formalista da arte egípcia. Quanto ao tratamento temático a diretriz da arte egípcia é          classicista. Portanto ela exprime sempre o tipo e não o indivíduo. Idealização tema, em especial                estilizando a forma e moralizando a ação.


Também a partir dali desenvolve o convencionalismo, o intelectualismo, o espírito de análise e o já mencionado formismo estilizante.
A arte egípcia é sobretudo formalista, o que não é exatamente o mesmo que ser clássica. O formalismo esquece os detalhes naturais individualizantes das figuras, tendo em vista uma outra verdade, da qual as figuras são apenas um símbolo, ou sistema. Assim sendo, o aspecto naturalístico da figura não importa, podendo ser reduzida às suas linhas essenciais suficientes, como se fosse uma taquigrafia. No caso egípcio, a outra verdade é sempre a religiosa.
Povo ainda não saído de todo da primitividade, não deu apreço aos demais valores humanos, como acontecerá depois com os gregos. Uma vez bastando apenas a linha essencial das figuras, estas são desenhadas formalisticamente, com uma liberdade que poderá simplesmente assumir o caráter estético das linhas e volumes, estilizando a imagem do homem, dos animais, das flores.
O egípcio é um grande estilizador, preferindo pois a linha pura, de seguimento lógico. Por isso mesmo melhor desenvolveu sua capacidade de traçá-la. Quando, após a arte grega, os primitivos cristãos retornam à arte formalista, não conseguirão tanta perfeição quanto a dos egípcios de séculos anteriores.
O convencionalismo intelectualizante se manifestou em convenções frequentes, em que a mais destacada é do homem, representado sempre com pele marrom, e a da mulher, sempre com a cútis amarela clara. Ele, talvez, porque mais estorricado pelo sol, ela porque mais delicada. A mancha azul é a cor convencional da água, também marcada com linhas escuras em zigue-zague.
A quebra do convencionalismo é rara, todavia proposital no tempo anti-convencionalista de Amenofis IV. No retrato das I Filhas de Amenófis IV os corpos nus das adolescentes se mostram em tom vermelho.
Também foi o intelectualismo que favoreceu o desenho analítico das pessoas e que não impediu que o rosto fosse de perfil e o olho de frente. Certamente que se orientavam aqui os egípcios por uma convenção analiticista, e não por uma limitação de capacidade de desenho, pois até uma criança tende a fixar um rosto de frente e com dois olhos, para um corpo de perfil.



Na pintura egípcia há um estilo, que resulta não só de certas conceituações temáticas de sua natureza classicista e mais tarde expressionista, como também de uma série de elementos técnicos e limitações dos materiais utilizados para o veículo da expressão, o significante.
Já contava o pintor egípcio com certa variedade de tintas. O preto o obtinha com ossos calcinados. O branco o produzia com gesso, de mistura com mel ou albumina. A ocra, vermelha e amarela, a formava com argila misturada com sulfureto de arsênico, cinábrio e vermelhão, adequadamente. O azul o conseguia do lápis-lazuli, ou do vidro colorido com sulfureto de cobre e respectiva pulverização.
Para conservação, o pintor egípcio aproveitou a goma de adraganto que adicionava aos pós no ato da solução. Contribuiu para esta conservação a circunstância de serem hermeticamente fechadas as câmaras mortuárias, em que se realizaram grande numero de pinturas.
Ainda que dos outros povos igualmente antigos do oriente próximo e mesmo do período neolítico europeu se conservem alguns documentos pictóricos, nenhum deles teve a sorte do egípcio, cujo acervo transferido até nós é suficientemente grande, para definir variações de estilo, graças às câmaras mortuárias, que tiveram a função conservatória de efetivos museus. Se daqueles outros povos se estudam os monumentos arquitetônicos e as escultura, do egípcio se examina especialmente a pintura.
São os egípcios inventores da pintura denominada fresco (ou afresco). Consiste a técnica em pintar a fresco, sobre o reboco ainda úmido. As tintas combinadas com a água e a cal, depois de ressequidas e influenciadas pela transformação química do reboco, se tornam firmes. Realizadas em muros também se denominam pintura mural.
Do ponto de vista meramente formal da pintura, do virtuosismo da execução, o egípcio revelou grande capacidade de desenho das linhas puras, isto é, das de segmento lógico. A mesma versatilidade não a alcançou nas particularidades episódicas da natureza, até mesmo porque não teve esta preocupação temática.
As pinturas e esculturas se orientam para o perfeccionismo anatômico. Não só estiliza a flora, os animais, mas também o homem e os deuses. O simbolismo intelectualizante favorece a fuga do episódico, do naturalístico e do anatômico.
Não atende o egípcio à perspectiva e nem a profundidade no espaço. Divide a parede do mural em secções quadriculadas, -chamadas registros, - de sorte a pintar em cada uma cenas com igual perspectiva. Quanto mais alto, o registro, mais longe significa estar a cena, em relação às mais baixas, por outro lado, mais perto, resultando uma espécie de coleção de quadros justapostos.
A quadriculação permitia a fácil reprodução dos modelos, segundo o original, porquanto se desenvolvia sem as particularidades da perspectiva e das relações com o todo.
Os egípcios submetem o corpo a um tratamento analítico, em parte proposital e em parte talvez por deficiência: os olhos sempre de frente, com o rosto em perfil. Também o tórax de frente (ainda que também se soubesse desenhá-lo de perfil, como se vê numa representação de bailarinas, do túmulo de Nakt).
Raras vezes uma figura se sobrepõe encobrindo parte de outra. Ainda a arte bizantina e a gótica pintará as figuras lado a lado. Apenas no pré-renascimento do século 14 com Giotto, começará a se desenvolver o tratamento do espaço.
Modernamente, os cubistas (vd  3911y980) deram também aos volumes um tratamento analítico, colocando de frente as faces menos expostas do objeto.





Pela ordem cronológica, a pintura egípcia se desenvolveu depois da escultura, talvez por causa da dificuldade obvia da técnica da obtenção das tintas, de sua dependência do mural, de sua maior exigência de abstração.
No Antigo Império (3200-2270 a.C.), capital Menfis, predominou a escultura. Em Patos de Meidum (c. de 2600) á se verifica uma técnica evoluída de pintura.
Ainda no Médio Império (2270-1555 a.C.), capital Tebas, continua pouco frequente a pintura.
É apreciável o calcário pintado representando o Faraó Amemhemet ente a esposa e um Deus, com os caracteres da técnica egípcia de pintura lisa, - marrom no homem, amarelo na mulher, olho de frente, contorno de desenho em preto, linhas estilizadas.
O Novo Império (1555-1090 a.C.), ainda com capital em Tebas, marca o período áureo da pintura egípcia. As novas modalidades de construção de câmaras mortuárias terão também tornado a pintura mais fácil que a escultura em relevo.





775. Elenco das pinturas egípcias mais apreciáveis:
1) Tocadoras de dupla flauta e bailarinas, um mural do túmulo de Nakht. Reproduz os divertimentos livres de uma época de esplendor. Mostra a evolução da arte pictórica, liberdade criadora, inclusive na circunstância de representar as bailarinas de perfil.
2) Userhet caçando, pintura mural de Tebas. Sobressai pela vivacidade do desenho, tanto do carro como e sobretudo do movimento gracioso e dinâmico do cavalo em salto aberto rumo à caça.
3) Retrato da filhas de Amenófis IV, pintura mural de Tell-el-Amarna. Indica prontamente a orientação revolucionária ocorrida no tempo do chamado rei herético. A coloração amarela convencional do corpo feminino é abandonada. Nuances e flexibilidades novas são dadas ao comportamento anatômico em geral. O sombreamento, que os egípcios voltaram a abandonar por força da reação convencionalista, os gregos o alcançariam novamente no século 5-o a.C. com Apolodoro.
4) A esposa da Ramsés II, conduzida por Ísis, da tumba de Nefertari (Necrópole Tebana) . Observa-se na rainha uma elegância peculiar que o pintor capta com segurança.
5) A vida social além túmulo se aprecia em pintura mural da tumba de Ra-Djeser-Ka-SNB (Necrópole Tebana). As figuras femininas numerosas, com música dança e palestra, criam boras alegres ao sepulto.
6) Deus Anubis, das paredes do Palácio de El Deir El Bahari. Representado com cabeça de chacal, um simbolismo, é o zelador das múmias.
7) O cortesão Senudem e esposa, das paredes do Palácio El Deir El Bahari, sacrificam à deusa Ísis.

  

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