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segunda-feira, 14 de abril de 2014

O PRIMEIRO RENASCENTISMO 1420-1500

O Primeiro Renascimento
(1420-1500).
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Um retorno retórico à antiguidade inspirou o Primeiro Renascimento que decorreu no século 15. Ele foi decorativo, sem maior profundidade. Os ideais desse Primeiro Renascimento conseguirão todavia desenvolver-se logo depois, no Renascimento Clássico do século 16, mais estruturalista.



Na passagem para o século 15 a pintura caminhou para a valorização das formas plásticas, além das pictóricas. Em valorizando o plástico, acentua o lado humano das atitudes.



No plano técnico da composição principia a espacialização na direção do fundo do quadro, de sorte a eliminar definitivamente os fundos planos e dourados da pintura anterior. Consequentemente a luz recebeu melhor tratamento. E assim também progrediu o tratamento do espaço; as cenas de grupo se desenvolveram não só no primeiro plano, mas no espaço inteiro.



Um novo conceito de unidade e coesão ordena os muitos elementos de sorte a não haver soma de individualidades completas, mas uma só grande cena. O comportamento do apreciador é ordenado no sentido de apreciar o conjunto, preocupado com as relações.
Apesar do colorido que tende a destruir contornos, os humanistas zelam pelo relevo natural das figuras, o que requer habilidade consciente.
Na arquitetura se destacou Bruneleschi (1377-1466), na escultura Donatelo (1386-1466).
Na pintura , depois de Giotto, se fez conhecido o admirável Fra Angélico (1387-1445) com forte ligação passadista. A inovação pertence particularmente a Masaccio (1404-1428), Pierro dele Francesca (1416-1492), Leonardo da Vinci (1452-1519), este na primeira fase. Os venezianos (Mantegna, Giorgione, Bellini) já são precursores do colorismo do século 16.



Difundindo-se o movimento para toda a Europa, apreciamos sobretudo a escola flamenga. Nesta se destaca Van Eyck (1390-1441), que aperfeiçoou a pintura à óleo.
Alguns dos nomes mencionados merecem maior destaque.


FRA ANGELICO



O maravilhoso Fra Angélico (1387-1445) representa a contribuição dominicana para o Pré-renascimento e para a liderança florentina no movimento. Aliás, os dominicanos haviam atuado até ali em Siena goticista, de onde se transferem alguns para Florença; explica esta circunstância as influencias remanescentes do gótico.



Os franciscanos, desde longa data em Florença, vinham mais ligados a Giotto o qual produziu sua obra em função a S.Francisco.



A atividade de Fra Angélico foi precedida em Florença dominicana por Andrea Bonaiuto, ainda de tendências góticas clássicas, com seu linearismo e fundos dourados. Logo Fra Angélico surge com criações do mais alto valor. Situando-se já dentro da idade da Renascença pela modalidade humana da pintura, mantém-se contudo em temas religiosos exclusivamente, com a conceituação anterior. Por isso, não se pode situar sem ressalvas Fra Angélico como renascentista.



De 1433 sobre a mais antiga pintura, o Retábulo dos linheiros (altar da Corporação dos Linheiros) em que se vêem a Virgem com o Menino e doze anjos; sobretudo estes são muito apreciados. O fundo ainda é dourado; as cores, porém, são pastosas, fugindo já ao linearismo gótico.
Sobras, de fundo dourado e de linearismo em estado de abandono, se observam em sua Anunciação (da Igreja de S.Maria Novela). A idealização mística dos rostos é também característica remanescente gótica e bizantina.
No Convento de São Marcos, em Florença, decorou Fra Angélico, de1438 a 1446, quarenta e quatro celas de monges, com mais duas decorações no claustro e uma no capítulo.
Os afrescos tornaram o convento dominicano em um museu de arte e documentário histórico, porque há aqui uma nova pintura, sem linearismo gótico. Ao em vez domina a composição plástica e o espaço, propriedades do humanismo renascentista, que já está com seus grandes nomes nascidos. Apenas difere o tratamento dado à temática religiosa.
É apreciável o Noli me tangere, do referido Convento de São Marcos. Madalena veste amplo cor de rosa e exibe cabeleireira similar, no colorido vivo do amor. Com um joelho em terra, o outro avançando, tem o manto distendido em leve cauda, fazendo uma base ampla e suave pousando sobre a relva; neste espaço a relva assume o verde escuro para realçar o perfil claro.
A luz converte o rochedo do sepulcro marmoreamente belo e de contornos acetinados.
Os fundos, que marcam o Monte das Oliveiras, recebem um tratamento de espaço inexistentes no gótico anterior.



 
MASACCIO




Masaccio (1401-1428), nascido em San Giovani, estabeleceu-se em Florença, que liderou o movimento renascentista, como depois Roma o clássico. Abandonou a maneira gótica Sienense de pintar. Distribui equilibradamente os volumes. Tal como Giotto, não tumultuou o quadro com excesso de figuras. A expressão psicológica também recebeu o mesmo expressivo tratamento de Giotto. Conseguiu realçar o grupo e localizar a ação em toda área do espaço.
Crucificação (do pórtico de Pisa, 1426) revela a unidade de cena mediante confluência dos contrastes.
Cristo concentra dominadoramente a dramaticidade com seu rosto sereno.
Maria se conforma e o contempla.
João inclina a cabeça dominado pela dor.
Maria Madalena, todavia, é um grito pictórico ao pé da cruz; prostada, o vermelho do manto, que seus braços erguidos ampliam, são a ampla expressão deste grito dramático. Vendo-se-lhe só os cabelos louros vivos e de trás, e que se fundem com o manto. O cromatismo gritante e dolorido se reforçado indo ao patético.
Na Adoração dos Magos (Pisa, 1426) ainda que haja a longa fila não se reduz ela apenas ao conceito de fila, porque há figuras em todas as posições de profundidade.
Esta distribuição da ação é conseguida por meio de tratamento de luz e da perspectiva que produzem os relevos e as distâncias.
Adão e Eva (Florença, 1426), da capela Brancaci, é uma das primeiras grandes representações dos protoparentes, com profunda interpretação do dramático e movimento das figuras. Vencida a expressão meramente formal, entra agora a pintura para a profundeza humana.
Adão se move sem esperança e cobre o rosto.
Eva, com o vivo sentimento feminino, parece ainda implorar misericórdia no rosto erguido, desmantelado, chocante de dor, enquanto um gesto de pudor colhe os seios dramaticamente.
Tributo (Florença, 1426), da capela Brancaci, executa outro processo raro em pintura, o do episódio em vários tempos narrativos. Há um domínio total do centro (Cristo, o encarregado do Tributo do templo, Pedro e os demais apóstolos).
Apenas, como efeito da decisão de Cristo, multiplicam-se os episódios marginais; à esquerda encontra Pedro a moeda na boca do peixe; à direita, está outra vez Pedro, entregando-a ao cobrador.


 

PIERO DELLA FRANCESCA



 Pierro della Francesca (c.1416-1492) é o classicista puro, de personagens idealizadas e felizes.
É o que se observa na harmonia humana do episódio Rainha de Sabá, em visita a Salomão (Lenda da Santa Cruz) e no esplendor ambiental do dia daVitória de Constantino (c. 329).
Em Pierro della Francesca não se encontra o tilintar subtil da sensibilidade humana de Filipo Lippi e Sandro Botticelli, também do Pré-renascimento.


 

FILIPO LIPPI


Filipo Lippi (1406-1469), de Florença, prosseguiu no estilo de Masaccio, todavia com maior elegância.
Sem resvalar em exageros linearistas, conseguiu um desenho gracioso e rítmico; alguns apontam neste linearismo sobras do goticismo remanescente que perpassa toda a renascença.
Um tratamento vibrante para a luz, empresta encanto ao ambiente e calor humano às personagens.
Em Dança de Salomé, no afresco sobre o festim de Herodes (1456), são notáveis a luz e o encanto da jovem, a linearidade bem distribuída, nas vestes e nos movimentos, com elegância e calor.





841. Multiplicam os pintores italianos de qualidade.
Pollaiolo soube imprimir forte movimento às figuras. Neste sentido dão apreciáveis Apolo e Dafne (c.1470).


POLLAIOLLO

Verrochio, pintor e escultor, importa porque foi mestre de Leonardo da Vinci.
As soluções em claro-escuro, como se vêem no seu Batismo de Jesus, foram levadas a pleno desenvolvimento por seu notável discípulo.


VERROCHIO
Filipino Lippi (1459-1504), filho de Filipo Lippi, se encontra no fim da vida sob influencia da escola de Flandres, encerrando assim uma fase do humanismo em Florença e na Itália.


 

FILIPINO LIPPI



842. Botticelli (1444-1510), em Florença deu prosseguimento ao linearismo gracioso de Filippino Lippi, acrescentando-lhe sempre maior musicalidade levitante. Tematicamente se dedicou às alegorias pagãs, agora em cores humanistas. Imprime aos personagens um que de levitante, o que consegue tirando-os do eixo de gravidade natural, ao mesmo tempo que dando aos pés uma atitude dançante.
A alegoria da Primavera (Florença, 1478) solta as imagens no espaço, como penas voejantes e rítmicas. Tentou transferir a pureza angélica à figuras pagãs. Conseguiu-o de modo eminente em Nascimento de Vênus (Florença, 1485).


BOTICCELLI

Giovanna degli Albizzi e as Quatro virtudes cardeais (1486) são mais um exemple dos movimentos tardos, levitantes e graciosos do estilo de Botticelli.
Virgem e o Menino mostra como se transmite o mesmo tratamento gracioso aos sentimentos femininos.
Apesar de paradoxal, o gracioso o repetiu em Judite (Florença, 1470), com a espada na mão.
Depois da pregação reformista e radicalizante de Savonarola, inclinou-se Botticelli para uma pintura introspectiva, como se vê no Retrato de Giuliano de Medici, Calunia de ApelesHistórias de Lucrécia.
Prenunciou Botticelli os novos tempos do século 16, que ele aliás alcançou, nos seus últimos 10 anos de vida.





843. Jean Van Eyck (c. 1390-1441) é o primeiros renascentista da Escola Flamenga e Borgonhesa do Norte da França, seguido logo por Roger Van der Weyden (c. 1400-1464).


VAN EYCK

Van Eyck, nascido às margens do Mosa, foi pintor de Felipe le Bon, duque de Borgonha. Aperfeiçoou as tintas à óleo e as empregou na pintura. Desta sorte criou uma nova fase técnica, a qual, sendo mais prática, do que a pintura mural de afresco, relegou a esta ao paulatino esquecimento.
Já na primeira pinturas, Virgem numa igreja (1420) e a Anunciação (c. 1425), Van Eyck se situa quase inteiramente fora do estilo gótico, pela luz, tratamento do espaço e implantação dos volumes.
Aperfeiçoando adequadamente os contornos e valendo-se do jogo da luz, conseguiu também libertar as figuras, separando-as do meio, imprimindo-lhes quase a autonomia das estátuas em três dimensões. É o que ainda podemos observar no meio ambiente da Virgem do Chanceler Rolin (c. 1422), que mostra a paisagem de Liege, em que se move o rio e ainda atravessam pessoas pela ponte.
Realista, Van Eyck se dedicou também ao retrato. O seu Homem do turbante vermelho (1433) olha na direção do espectador, o que é mais uma novidade introduzida por Van Eyck. Dali resultou um efeito novo, a consonância entre o retratado e o espectador.
Através da meticulosidade exterior, conseguiu revelar a singularidade interior; é bem o caso do retrato do Cônego Van der Paele, que se encontra numa tela da Virgem.
A admiração converge sobretudo para o Casal Arnolfini (1434), tanto nos retratos, como no tratamento dos espaços e da luz. Vive a fisionomia o seu interior nobilíssimo, concentrando-se principalmente nos olhos. A evocação e coesão se faz até nos objetos e mesmo no cão, símbolo este da fidelidade.
Adverte-se como característica dos retratos de Eyck a imobilidade somática das figuras. Tudo é posto na fisionomia, retratando interior, e não na dinâmica dos movimentos dos movimentos do corpo.
A principal e talvez a maior obra de Van Eyck é a Adoração do Cordeiro Místico, tela em que o autor usa ainda o mesmo processo de perspectiva dos egípcios e românicos, isto é, de registros sucessivos dentro do espaço da altura do quadro.


 


ROGER VAN DER WEYDEN



Roger Van der Weyden (c.1400-1464), como Van Eyck, foi seguro no detalhe, e que se faz tradição na escola flamenga. Calcando as linhas do desenho, parece revelar a intenção de atingir as formas as mais exatas.
Cabeça de Virgem (1450) é um desenho a buril, com uma segurança admirável, em que o traço firme é de um tal acerto, que não enrijesse, mas acentua os objetivos de marcar a doçura e suavidade.
No Retrato de jovem senhora (1455) mais uma vez é o desenho que conduz a composição ao requinte, apesar das cores simples, quase lisas e sem reflexos de luz.



JEAN FOUQUET


845. Jean Fouquet (1420-1480), pintor e miniaturista francês, apresenta afinidades com o flamento Van Eyck. Esteve também em Roma. Na Itália conheceu Fra Angélico, que o influenciou.
Cultivou a beleza clássica da forma. Veja-se o rosto da Virgem do díptico de Melun (1451). A originalidade, além disto, é evidente, por causa da cor irreal, de índole abstrata, e o modo contemporâneo de compor o cabelo.


BOSCH


Os surrealistas dos Países Baixos, Bosch (1450-1516) e Bruegel (1528-1569) são potencialmente parte do maneirismo (vd 860) , que virá em breve.
Já exploram princípios anti-clássicos contidos no próprio classicismo do Renascimento, razão porque a história posterior retorna a mencioná-los.




BRUEGEL 

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