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segunda-feira, 14 de abril de 2014

RENASCIMENTO TARDIO - (1520 - 1600)


  


A expansividade das formas e do colorismo transmuda o anterior Renascimento Clássico (1500-1520) em direções peculiares.
Algumas formas vieram a ter denominações próprias, como o maneirismo (ou manierismo, a partir do italiano maniera = maneira).
Outras formas são indicadas simplesmente pelos nomes de seus países, onde o renascimento adquiriu caracteres nacionais. Aliás, o maneirismo, ou manierismo, chamado também italianismo.
Títulos a considerar do Renascimento tardio:
- Maneirismo 
          - Estilos da Renascença francesa

- Holandeses renascentistas do século 16. Surrealismo 
- Renascimento na Alemanha

I - Maneirismo, ou italianismo.


Não dominando embora o maneirismo o estilo de todos os artistas do tempo, pois lhe saem um pouco pela tangente realistas como Holbein eidealistas como Tiziano, há contudo em cada um algo que conota o seu espírito. De um lado tentando reforçar expedientes de forte expressividade, de outro lado tentando equilíbrios, o maneirismo não conseguiu de fato este equilíbrio de tensões.
Porque uns queriam este equilíbrio mais para cá, outros mais para lá, derivou finalmente o maneirismo para a exacerbação barroca. Nesta condição o maneirismo é um estilo de transição. Em si mesmo tem seu sentido intrínseco, que entretanto não conseguiu estabilizar e manter, como que caindo da corda bamba, pelo lado de lá, enquanto outros desejariam que houvesse ficado pelo lado de cá (de moderação classicista).
Os tempos modernos contemporâneos reavaliam o maneirismo pela sua significação intrínseca, porquanto ele contém elementos que se restabeleceram hoje. Até mesmo o surrealismo consegue espelhar-se nele.


Os maneiristas, pelas suas manifestações por vezes individualistas e excêntricas, são difíceis de classificação em seu mesmo contexto, de sorte a não se poder definir o movimento por esta ou aquela personalidade.


El Grecco pintou isoladamente; Tiziano e Tintoreto são contrários entre si; Giuseppe Arcimboldi pintou retratos excêntricos combinados com livros e legumes; Brueghel passou a um rompimento de espaços e um onirismo tão diversificado que já não parece ter relação com o mesmo movimento.
A denominação maneirismo surgiu a este tempo como pejorativo, dado no século seguinte pelo historiador das artes plásticas Giovani Bellori, que assim denominou aos que exageradamente imitavam os grandes Miguel Ângelo e Rafael.


Retificada esta interpretação, o maneirismo se define positivamente como progressão de princípios anticlássicos já existentes potencialmente no classicismo anterior, e que começaram a se manifestar em Rafael, como se percebe em sua Transfiguração (Pinacoteca Vaticana) e em Miguel Ângelo, sobretudo em suas obras tardias.


Uma das características, do maneirismo em que claramente se percebe seu afastamento do equilíbrio clássico, é a figura "serpentinata" (serpentizada), introduzida por Miguel Ângelo, reaparecida em El Grecco, que será finalmente a figura convulsionada do barroco. Este procedimento da figura serpentinatanão é senão um exemplo do abandono do equilíbrio perfeito do clássico por formas subjetivamente dinâmicas eleitas. Estas não concordavam, nem com as formas universais do idealização clássica, nem com as formas naturais do realismo. Em consequência, nem clássicos e nem anticlássicos realistas puderam aceitar o maneirismo, combatendo-o como um horror, finalmente reduzindo os seus representantes ao esquecimento.


Mas o estilo contemporâneo modernista de hoje viu novamente ali um seu antepassado, que foi posto a ressurgir. Foi o maneirismo reabilitado, como se viu claramente na exposição de Amsterdam (1958) sob o título O Triunfo do Maneirismo.
Decaiu muitas vezes o maneirismo em um decorativismo sem profundidade, quando a versatilidade livre no uso do espaço e do colorismo devia ser procedido a partir da estrutura essencial dos objetos. Mas esta ressalva não se pode fazer ao maneirismo em si mesmo e que teve pontos altos com Ticiano, Veroneze, Tintoreto, El Grecco, Brueghel, Gruenwald.
As divisas do Maneirismo do Renascimento Tardio com o antes e a depois são difíceis de definir, porque seu conteúdo tanto preexiste no classicismo anterior, como prossegue depois no barroco. Sem ser apenas um movimento de transição, existiu em si mesmo, sendo portanto possível arrolar nomes que o representavam, e estudá-los a parte.


Maneiristas mais representativos são os coloristas venezianos Ticiano, Veroneze, Tintoreto.
Por seus contatos com os Venezianos, El Grecco é estudado neste momento.
A este tempo vai começando a Renascença Francesa (século 16), com Jean Cousin, que certamente tem aproximações com Ticiano. Também já se manifesta o Renascimento na Alemanha, com Duerer, Holbein, Grüenwald, Cranach, todos sob influencia italiana, ainda que não alcançados fortemente pelo maneirismo.


Importantes são os pintores surrealistas dos Países Baixos Hieronimus Bosch (c.1450-c.1516) e Pieter Brueghel (1528-1569), por causa dos rompimentos de espaço que utilizaram como recursos novos de expressão.
Foi, portanto, o maneirismo sobretudo um fenômeno da Itália. Nomes: Ticiano, Veronese, Tintoreto, e os nomes menores Jacopo da Oassano, Giulio Romano, Giorgio Vasari, Il Pontormo, Giovani Battista Rosso, Frederico Zuccari, e muitos outros.



Ticiano (1490-1576) é figura culminante da escola veneziana, pelo colorismo com que retratou o mundo interior das figuras. Atingiu mais as regiões do coração que as da inteligência. Exprimiu os sentimentos, não pelo gesto, mas pelas cores e fisionomias evocadoras. Em vez dos gestos, deu pompa aos coloridos das vestes, das faces e mesmo dos olhos. Fez, entretanto, que as figuras participassem do meio ambiente; viu-as, portanto, a partir de fora e não apenas como em si mesmas, com músculos e conforme em Miguel Ângelo.
Dentre as telas de Ticiano Alegoria das três idades da vida (Edimburgo, 1513), é muito significativa, com sugestões que vem de Giorgione.
A Assunção (1516) tem a grandeza vigorosa de Miguel Ângelo e a graça de Rafael.
Bacanal (Prado, 1519) apresenta a todos as figuras em ligeira diagonal, a fim de favorecer os efeitos de luz.
Similarmente explora os efeitos de luz em Vênus de Urbino (1538).
Mas é sobretudo admirável pelo colorismo e composição Vênus com organista e cachorrinho (Prado, 1549).




Veronese (1528-1588) exprime pictoricamente a alegria superficial, com se vê nas Bodas de Caná.
Pretendem os críticos aproximar suas Bodas de Caná ao Almoço dos barqueiros do moderno Renoir, do ponto de vista pictórico e impressionista.
A composição de Veronese, no caso, é intuitiva, apanhando a primeira impressão, porém pouco técnica para os grandes grupos. A mesma visão intuitiva e impressionista colhe, nas demais telas, a alegria e o gozo do fausto veneziano.
Sua orquestra de cores, dedicada à exaltação de uma cidade rica, encontrou um título acertado em uma das obras finais: Glória de Veneza.




Tintoreto (1518-1594), discípulo de Ticiano, é um colorista que captou a vida em ação. Nisto está com Miguel Ângelo e com ele se encaminha para a espontaneidade do barroco.
Dotado de imaginação fecunda, Tintoreto povoou o palácio dos Doges com rico tesouro de figuras em movimento
Os espaços vazios entre uma e outra figura os aproveitou para criar ritmo sem apelo à linearidade; esta organização se observa nitidamente em Lava-pés(1550). O mesmo acontece em José e a mulher de Putifar (c.1544).
Sob a influencia manierista vigente praticou Tintoreto ainda o alongamento das figuras, para os mesmos efeitos de ritmo e movimento entre cores e outras cores, entre formas e outras formas.
O ritmo e a leveza das sucessões em espaços distintos recebeu tratamento peculiar em Baco e Ariadne (c.1578); a movimentação jogou um personagem no espaço, criando quase um brinquedo de roda.
Além dos três grandes nomes, Ticiano, Veronese, Tintoreto, um elenco de outros se coletam por toda a Itália por uma ou outra forma se ligam ao maneirismo.
Jacopo da Bassano (c.1510-1592), pintor fecundo, que influenciou El Grecco, destacando-se em Adoração dos pastores (Galeria Borghese, Roma), As bodas de Caná (Louvre).
Bronzino (Florença, 1503-1572), pintor maneirista a serviço de Cósmo I, retratista notável e autor de quadros de criações cortesãs, como Vênus, Cúpido,Loucura e o Tempo (National Gallery, Londres).
São maneiristas italianos Giulio Romano (1452-1546), Giorgio Vasari (1511-1574), Il Pontormo (1494-1556), Giovani Battista Rosso (1494-1540), este com trabalho em Fontainebleau e Paris, Frederico Zuccari (1542-1609).
Menciona-se finalmente também o teórico do maneirismo, Francesco Mazzola (1503-1540), dito Il Parmesan, autor da delicada e famosa Virgem do pescoço comprido (Florença, 1534-1540).




El Grecco (Creta 1548 - Toledo 1614) pintor grego, que transitou fácil para o Ocidente, porque a este tempo Creta estava sob jurisdição de Veneza, para onde efetivamente veio. Transferiu-se depois para Toledo, então ainda capital da Espanha.
Influenciado por Tintoreto, combinou o alongamento dos corpos do maneirismo, com a representação abstrata.
Foi um evocador exímio do mundo supra-sensível dos estados de alma, mediante coloridos e deformações serpentinadas as vezes chocantes. As últimas criações se modelaram diretamente à luz: Amor divino e amor profano, São João e os mistérios do apocalipse, Morte de Lacoonte e de seus filhos.
Com os venezianos se situou como um dos precursores remotos do impressionismo. No seu tempo El Grecco está mesmo na origem do barroco.

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