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segunda-feira, 14 de abril de 2014

RENASCIMENTO CLÁSSICO SÉCULO 16, 1500 - 1520

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O sucesso das artes, no século 16 se deslocou de Florença, para Roma. Para a sede da Igreja Romana afluía o dinheiro dos devotos peregrinos e o tesouro dos Estados Pontifícios, bem o resultado da pregação de indulgências em outra regiões da cristandade. Este fato em determinado momento facilitou a expansão da arte, sobretudo religiosa, com destaque da arquitetura e da pintura.
Nas primeiras décadas daquele século de Renascimento Clássico fora a Igreja penetrada por um espírito mais tolerante, o que facilitou a liberalidade típica da grande arte. Não muito depois a Igreja voltará ao seu anterior espírito rigorista, que atingirá seus resultados mais rijos por ocasião do Concílio de Trento (1545-1563).
 
O domínio pleno das formas artísticas, que então se obteve, e que define o Renascimento clássico, alcançou uma situação inigualável, tanto em Roma, como nos demais países.

Esta condição classicista ocorreu sobretudo nos anos de 1500 a 1520. Um tanto decorativo, em especial na arquitetura, o anterior Primeiro Renascimento(vd 835) foi superado pelo clássico, que agora se estabeleceu, porque este passou a insistir nos elementos estruturais, tanto na arquitetura, como na composição da pintura. A mesma orgânica da figura faz o ornamento, que já não vem por acréscimo.
 
A índole histórica do Renascimento Clássico do século 16 é o de termo de chegada. Isto quer dizer que antes já valiam os mesmos ideais, ainda que não chegassem a ser formulados.
Um movimento ascensional, - que teve seu início no século 14, quando aparecem as primeiras manifestações da idealização clássica e humana de Cimabue, Cavalini e Ducio (vd 831), progredindo através de Giotto, de Fra Angélico e de todo o Primeiro Renascimento do século 15 (vd 835) , - o Renascimento clássico chegou enfim ao altiplano da arte plena com Leonardo da Vinci, Rafael, Miguel Ângelo (primeira fase).
Daqui para frente far-se-à apenas a superação, como espécie de recuo da idealização. A superação será o barroco, de coloridos resplendentes, formas entumecidas, libertas, extremistas, dialéticas.
 
Além do abandono do decorativismo, o Renascimento clássico ofereceu mais profundidade ao espaço. Existente anteriormente, agora tende a se desenvolver como um túnel central, que foge na direção dos fundos, como bem se observa na Escola de Atenas de Rafael.
Na mesma direção, os coloristas venezianos, da mesma fase do Renascimento clássico, distenderão os panoramas.



 


Leonardo da Vinci (Florença, 1452-1519), filho genial de um amor romântico de um notório com uma camponesa de nome Catarina, foi o maior pintor da Renascença clássica. Ainda como sábio fez pesquisas de biologia, física, matemática, mecânica, além de haver exercido a profissão de engenheiro e arquitetura.

Na sua fase inicial de vida encontra-se situado no Primeiro Renascimento do século 15. Pintando de começo com linhas claras e contornos bem definidos, passa às divisórias difusas, integrando o objeto no ambiente. Nesta unidade do principal, fusão das figuras no ambiente, integração da arquitetura do quadro com a paisagem, impressão de que os objetos brotam do meio em que estão.

Virgem das Rochas (Louvre, c. 1488), encomendada por Milão em 1483 e concluída muito depois, é um caso típico de sfumato. O volume dos objetos principiam sem se determinar a partir de onde comecem. Mergulhados no ambiente, tornam-se impalpáveis. A luz ilumina os elementos dominantes do tema e que são; a face da Virgem, o corpo do Menino e do anjinho, o céu distante visto através de uma abertura das rochas.

Anunciação (Louvre, c. 1478), difusa e integrada no ambiente, precedida por uma outra Anunciação (Galleria degli Uffizi, de Florença, 1472), de linhas bem definidas, conforme seu estilo original, com o panorama de árvores de fisionomia nítida. Aliás esta é uma primeira Anunciação pintada como se o fato ocorrera fora de recinto fechado.
 
Leda (1503-1505), representa a princesa mitológica, de que nasceu Helena, por obra de um amor de Zeus, somente restou uma cópia (Coleção da Condessa Spiridoni, Roma). Este nu admirável está em função às preocupações de Leonardo sobre o nascimento da vida.
Conota-se com as pinturas anteriores da Anunciação. Apresenta em obra de arte uma crença vigente à época grega e no mundo antigo em geral, de que grandes homens nasciam de mulher sem a participação do homem, e sim de um Deus.

No caso da Anunciação, segundo a convicção dos cristãos, sobretudo católicos, foi "por força do Altíssimo".

No caso de Leda o operante foi Zeus na forma de um Cisne. No Oriente se crê que Buda teria nascido de uma princesa fecundada pelo raio de luz de uma Elefante celeste. Platão é chamado Divino, porque este eminente sábio teria nascido por obra de um Deus, o mais belo deles, Apolo.
Mas, nem Leonardo, nem outro importante artista transpôs para a tela a significativa lenda que consagra o eminente filósofo na conceituação popular. Leonardo em Leda apresenta sugestivamente entre as meias partes de cascas de ovo o nascimento de crianças. O claro-escuro destaca o reluzente nu de Leda, contra o escuro difuso da rocha contígua.
 
Última Ceia, (pintada na ampla parede do refeitório do convento dominicano de Santa Maria dele Grazzie, de Milão (1495-1497), ali se conserva ainda hoje, graças a muitas restaurações. Por causa de sucessivas danificações resta pouco do que era mesmo o original.
Apesar da frontalidade peculiar à arte bizantina, a composição da Última Ceia é muito variada, inclusive com cenários de fundo, e se tornou muito apreciado do grande público.
Indica o episódio no momento da asserção de Jesus no momento, quando disse, - "um de vós me trairá".
A tela fixa as reações consequentes, enquanto o Cristo permanece em solidão. De três em três os seus discípulos de interpelam, porém cada grupo à sua maneira. Todavia, a formulação dos grupos de três resulta do equilíbrio próprio da composição clássica.
Outro artista, ao tomar uma cópia do original, desfez um dos grupos de três, colocando Judas pelo lado da frente da mesa. Hoje, esta cópia é a mais difundida.

 


La Gioconda (retrato de Monna Lisa, como também é conhecida (Museu de Louvre, onde é muito visitada, 1503-1505), fixa um estado interior peculiar de doçura, mediante um ligeiro sorriso, que os olhos acompanham.
Estes os olhos, que as fotografias não conseguem reproduzir quanto são vivos no original, são algo de impressionante. Revelando um estado interior permanente e não apenas uma situação instantânea, contém o que mais importa num retrato. O permanente mostra integralmente a personalidade.
 
Gioconda, por sua adorável jucundidade, é um triunfo da arte clássica, pois na temática idealizada sempre é difícil libertar-se da frieza e da monotonia. Muito se escreve e se teoriza sobre a famosa tela, hoje em Paris, num vasto salão, sempre cheio de visitantes. Inclusive se criam hipóteses sobre quem seria mesmo aquela personagem. Talvez o próprio Leonardo.



 
851. Rafael Santi, ou Raffaello Sanzio (Urbino 1483-1520) viveu os anos exatos do Renascimento Clássico em Roma e alcançou ele mesmo a exata realização dos ideais desta fase artística, cujo sucesso foi haver equilibrado o humano e o transcendente.
Um quadro de Rafael é doce, ao mesmo tempo que grandioso. Na ordenação do quadro controlou todos os conflitos, realizando a alegre consonância dos motivos.
Escola de Atenas, famoso mural de uma sala papal do Vaticano, organizou a multidão dos filósofos antigos. A profundidade, vista apenas no centro, pôs ordem no espaço. Ao mesmo tempo, nesta direção central situou a Platão e Aristóteles, que se destacam sem que venham até o primeiro plano. Nestas condições se convertem também no centro geométrico da composição, aliás, dentro da função de núcleos de irradiação do pensamento grego e do mundo.
Se em outras telas o destaque foi conseguido pela grandeza das figuras em primeiro plano, aqui não foi aplicado o recurso, porque se deu uma solução nova e mais adequada com o mencionado posicionamento dos dois filósofos chefes.
 
Nos muitos Retratos de sua autoria, Rafael conseguiu ser sóbrio e expressivo. São talvez melhor qualificados que suas Madonas.
Estas, as madonas, são figuras suaves e adocicadas, e talvez por isso mesmo, tenham alcançado apreço do grande público.
Tendo morrido cedo, aos 37 anos, talvez por isso mesmo Rafael não se tivesse encaminhado para a criação de formas vigorosas, como ulteriormente fará Miguel Ângelo.
 
Viveu Rafael apenas a fase moderada do classicismo puro e harmonioso que se encerra com ele mesmo. Tal é o clássico As três Graças (1500). Nuas e macias, volumosas e leves, bailam as graciosas ao azul luminoso do céu, tendo ao fundo uma paisagem esvaecente.
No entrelaçamento de linhas, criou três horizontes: no meio o horizonte natural da esvaecente paisagem; acima o horizonte da ondulação formada pelos braços bailantes; abaixo uma equivalente ondulação horizontal das formas pomposas das três Graças, em que a do meio está de costas, as outras duas de frente formando níveis diferentes e calculados.



 



852. Miguel Ângelo Buonarotti Simoni (Caprese 1475 - Roma 1564), antes de tudo arquiteto, também um dos maiores escultores e pintores do Renascimento Clássico, depois ainda participante do Renascimento Tardio, começou contudo seus estudos pela pintura, em Florença. Logo passando também à escultura, notabilizou-se bastante cedo com sua realização espetacular, David (Galeria da Academia, Florença 1501-1504), um nu masculino capaz de rivalizar com qualquer estátua grega antiga. E pouco antes em Roma realizava outra escultura considerada obra prima, Pietá (1498-1499).
 
Depois de David pintou em Florença um afresco que se perdeu. Em Roma realiza a estátua de Moisés (1513-1546). Ainda Cristo ressuscitado (1519-1520) em pose olímpica.
Como pintor Miguel Ângelo realizou de 1508 a 1512 os afrescos do teto da Capela Sixtina (43 por 13 metros de área). Sob encomenda do Papa Julio II (+1513). A obra será completada mais tarde com o mural dianteiro, sob encomenda do Papa Paulo III, Juízo Final (1536-1541).
Em 1547 projetou a cúpula da Basílica de São Pedro. Dentre os inúmeros detalhes do teto da Capela Sixtina se destacam A Criação de Adão, O pecado original, A sibila délficaO profeta Jonas, O nu de uma jovem.
Pintou também a versão bíblica da criação do homem. Contrasta a vigorosa majestade de Deus, figura ao mesmo tempo airosa e misteriosa, estendendo o braço que vivifica, de outro lado a Adão, cujo braço e mão ainda estão sem vitalidade, prestes a recebê-la.
O mural do Juízo Final se caracteriza pelo comportamento vigorosamente heróico das figuras ao mesmo tempo que dotadas de um estável equilíbrio clássico. O corpo possante de Cristo Juiz é equilibrado por uma cabeça jovem e visivelmente intelectual, pensativa, que evita olhar, pois tem de pensar.

Uma mulher, ao mesmo tempo que olha com firmeza de mãe advertida, com o braço forte protege sua filha, é uma cena única nunca antes vista em outra obra. Fosse para analisar todos os detalhes da obra de Miguel Ângelo em função a este tipo de expressividade significativa, importaria em escrever um livro. Os apreciadores, hoje principalmente os turistas, são ocupados horas pelos guias, sem que esgotem as explicações de valor.
 
Algumas das vestes sumárias aplicadas às figuras nuas do Juízo Final foram executadas por artista do Renascimento Tardio por incumbência do Papa. Esta iniciativa foi interpretada de maneira vária.
Pelos princípios que contêm a arte de Miguel Ângelo, ela deu início ao movimento que se lhe seguiu, o maneirismo, ou seja, a arte segundo uma nova maneira, a de Miguel Ângelo, da qual finalmente resulta o barroco. Tendo alcançado a longevidade, o próprio Miguel Ângelo inclina-se cada vez mais na direção do movimento que se expandia. Desta sorte, ainda que represente o período anterior do Renascimento Clássico, penetra no seguinte. Em potencial, Miguel Ângelo é o maior maneirista e barroco, porque ele foi como que sua semente.

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